Nesta quarta-feira (5), os países europeus reiteraram o seu apoio à solução de dois Estados, após Donald Trump declarar seu plano dos Estados Unidos controlar a Faixa de Gaza.
A proposta sugerida por Trump de ‘tomar conta’ de Gaza e deslocar mais de 1,8 milhões de palestinos para transformar o enclave devastado na Riviera do Oriente Médio foi recebida com fortes críticas e ceticismo por parte dos líderes europeus, que alertaram ainda que a ideia atropela a solução de dois Estados.
"A expulsão da população civil palestina de Gaza não seria apenas inaceitável e contrária ao direito internacional. Também conduziria a um novo sofrimento e a um novo ódio. Não pode haver uma solução por cima da cabeça dos palestinos", afirmou a ministra das Relações Exteriores da Alemanha Annalena Baerbock.
A França também foi categórica e rejeitou completamente a sugestão do presidente dos EUA. “A transferência forçada da população palestina para permitir a supervisão americana constituiria uma grave violação do direito internacional, um ataque às legítimas aspirações dos palestinos e também um grande obstáculo à solução de dois Estados. O futuro de Gaza não deve estar na perspectiva de um controle por um terceiro Estado, mas no quadro de um futuro Estado palestino, sob a égide da Autoridade Palestina", declarou o Ministério das Relações Exteriores francês.
A Irlanda e a Espanha, dois países que em 2024 já reconheceram o Estado da Palestina, manifestaram a sua oposição a esta proposta inesperada, que põe em causa décadas da política externa norte-americana. "Quero deixar uma coisa muito clara: Gaza é a terra dos palestinos de Gaza e eles devem permanecer em Gaza. Gaza faz parte do futuro Estado palestino", indicou o chanceler espanhol, José Manuel Albares.
O chefe da diplomacia irlandês, Simon Harris, comentou que iria julgar a Casa Branca com base no que fazem e não no que dizem, no entanto pediu uma clarificação dos comentários de Trump.
"Precisamos de uma solução com dois Estados e tanto o povo palestino como o povo israelense têm o direito de viver em Estados seguros, lado a lado, e é aí que se deve centrar a atenção. Qualquer ideia de deslocar a população de Gaza para qualquer outro lugar estaria em clara contradição com as resoluções do Conselho de Segurança da ONU", enfatizou Harris.
O primeiro-ministro britânico Keir Starmer disse que os habitantes de Gaza devem ser autorizados a regressar a casa. “Eles devem ser autorizados a reconstruir, e devemos estar com eles nessa reconstrução no caminho para uma solução de dois estados", apontou.
Starmer reforçou que agora a questão mais importante é a manutenção do frágil cessar-fogo entre Israel e o Hamas, que teve início em janeiro, incluindo a libertação de reféns e a permissão da entrada de ajuda na Faixa de Gaza, onde decorre uma catástrofe humanitária.
O Ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, admitiu que Roma pode analisar o plano de Trump, mas que o país continua a ser a favor de uma solução de dois Estados. "Parece-me que, no que diz respeito à evacuação da população civil de Gaza, a resposta da Jordânia e do Egito tem sido negativa, por isso acho difícil implementar o plano", avaliou em alusaõ a sugestão de Trump que os dois países do Oriente Médio deveriam receber cerca de dois milhões de palestinos deslocados pemanentemente, uma proposta que ambos já recusaram.
O rei Abdullah da Jordânia rejeitou quaisquer tentativas de anexar terras e deslocar os palestinos e o chanceler egípcio, Badr Abdelatty, apelou à comunidade internacional para reconstruir Gaza, sem nenhum tipo de transferência dos seus residentes para outro local.
"Para os Países Baixos, não há dúvidas: Gaza pertence aos palestinos A nossa posição é e permanece inalterada: os Países Baixos apóiam uma solução de dois Estados. Isso significa um Estado palestino independente e viável ao lado de um Israel seguro", anunciou Caspar Veldkamp, chefe da diplomacia da Holanda.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também advertiu hoje contra qualquer tentativa de limpeza étnica na Faixa de Gaza. "É vital permanecer fiel à base do Direito Internacional. É essencial evitar qualquer forma de limpeza étnica. E qualquer deslocamento forçado da população é equivalente a uma limpeza étnica", avançou Stéphane Dujarric, porta-voz do líder das Nações Unidas.